Sabe o dinheiro que você acredita que esteja em sua conta bancária? Então, ele não está lá.
Não se desespere: caso você consulte em seu aplicativo, no caixa eletrônico ou na boca do caixa, verá que seu saldo, assim como o de todos os demais poupadores e correntistas, está intacto. Mas ele não "está lá". As cédulas de todos não estão fisicamente armazenadas nos cofres das instituições financeiras em gigantescas pilhas de maços, como quase todos acreditam.
A maior parte do dinheiro em circulação em qualquer país do mundo, atualmente, nada mais é que dígitos eletrônicos, a chamada moeda escritural. É isso mesmo. Em economia, a oferta de moeda é classificada em vários tipos de agregados monetários.
Para ficar somente no que nos interessa agora, a base monetária restrita, ou M0, corresponde ao papel-moeda e moedas metálicas circulando em poder do público, mais as reservas bancárias, que são as cédulas e moedas físicas em poder das entidades financeiras, nos cofres do Banco Central. Hoje são apenas 381 bilhões de reais.
O M1 inclui a moeda escritural, que existe apenas como números nas telas dos computadores. São 518 bilhões de reais.
Você entendeu corretamente: se todos tivessem a ideia de sacar seus depósitos à vista, simplesmente não haveria cédulas para todos. Isto está te lembrando de algo?
Todos devem estar a par dos atrasos na implementação do auxílio emergencial, com datas de pagamento constantemente adiadas. O problema não era a falta de dinheiro na conta, mas a disponibilização de cédulas.
Segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, somente no mês de Junho a Caixa usou o dobro do total de cédulas previsto para um ano: "houve um pagamento muito grande em espécie. O percentual sacado em espécie foi maior que o histórico anterior. [...] A Caixa Econômica utiliza de cédulas entre R$ 20 bilhões a R$ 26 bilhões por ano e agora foram utilizados quase R$ 50 bilhões em um mês.
Com receios criados pela pandemia, muita gente também decidiu manter reservas de dinheiro em casa. É o chamado entesouramento. E, dos que recebem auxílio, muitos não possuem conta bancária e têm o costume de sacar todo o dinheiro e gastá-lo aos poucos, reflexo da exclusão bancária.
O BC já solicitou à Casa da Moeda antecipar e aumentar a produção de cédulas previstas para o ano, com receio de que falte dinheiro. Mas gargalos na distribuição deste dinheiro já são vistos pela população, quando tentam sacar dinheiro em lotéricas e agências bancárias e recebem a notícia de que não há mais dinheiro ou que o limite de movimentação diária foi atingido.
Mas talvez a principal medida seja agilizar a inclusão bancária e digitalização das movimentações financeiras no dia a dia da população. O principal artifício para tal foi o aplicativo Caixa Tem. Através da disponibilização do dinheiro por meio de um cartão de débito digital, a ferramenta permite que os beneficiários do auxílio emergencial pague contas, boletos e faça compras no comércio sem uso de dinheiro físico.
Apesar dos constantes problemas técnicos causados pela sobrecarga que o sistema vem sofrendo, a ferramenta vem sendo bastante utilizada. Embora provavelmente o principal incentivo para isso seja o privilégio de ter seu saldo antes da data prevista no calendário de pagamentos. Recentemente a Caixa incluiu a possibilidade de pagamento via QR code, para facilitar o uso. Mas, pelo costume arraigado, muita gente está 'fazendo compras' com seu cartão de débito virtual com proprietários de maquininhas, e recebendo dinheiro em troca, pagando 30, 60 reais.
Toda mudança é trabalhosa, especialmente se tratar-se de uma mudança de hábitos. Mas provavelmente estamos vendo uma transformação histórica, pelo qual outros países já passaram.
O próximo passo é o lançamento do PIX, previsto pelo Banco Central para novembro deste ano. Este promete revolucionar os meios de pagamentos, cortar custos com taxas de bancos, máquinas e cartões e digitalizar o dia a dia financeiro da população. Mas é assunto para outro dia.
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